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terça-feira, 14 de maio de 2013

A leitura nas séries iniciais

Enquanto avança o processo de alfabetização, aproximar os pequenos dos livros pode fazer toda a diferença

A Borrachalioteca, em Sabará, MG: contação de histórias e acervode 7 mil livros, dos quais 800 são reservados aos leitores-mirins.
 Foto: Leo Drumond/Ag. Nitro
       Quem disse que borracharia não é lugar para crianças? Em Sabará, a 25 quilômetros de Belo Horizonte, um desses estabelecimentos vive cheio de meninos e meninas. E eles não vão até lá para encher o pneu da bicicleta. Freqüentam o lugar em busca de livros. Isso mesmo: livros! É a Borrachalioteca, projeto vencedor do prêmio Viva Leitura 2007 na categoria de bibliotecas públicas, privadas e comunitárias.
    A idéia de transformar uma borracharia em espaço literário foi do estudante de Letras Marcos Túlio Damascena. O rapaz gosta de ler desde pequeno. Em 2002, muito antes de entrar na faculdade, percebeu que o negócio da família tinha potencial para ser usado como instrumento de incentivo à leitura. Afinal, havia espaço para acomodar alguns livros. Tudo começou com aproximadamente 70 títulos, conseguidos na base da doação. Em pouco tempo, crianças, jovens e adultos já visitavam o local não para consertar pneus, mas para pedir livros emprestados. Hoje, o acervo chega a 7 mil exemplares. Seu ponto forte é literatura brasileira. O inventor da Borrachalioteca conta, com orgulho, que a obra completa de Fernando Sabino - um de seus escritores prediletos - ocupa lugar de destaque nas prateleiras.
   Além de emprestar livros, o espaço ganhou um anexo bem próximo, fruto de uma parceria com a prefeitura de Sabará. E a iniciativa de Damascena acabou se transformando em uma ONG, o Instituto Cultural Aníbal Machado (uma homenagem a outro dos autores preferidos do rapaz). A maioria das 200 retiradas mensais da biblioteca é feita por crianças, como Richard Marques, 8 anos, que vai ao local quase diariamente. "Gosto mais de ler do que de ficar na escola", diz o garoto, estudante de 3º ano.
   Ao longo do ano, Damascena organiza eventos na praça em frente à Borrachalioteca, envolvendo sempre o incentivo à leitura. Num palco feito com pneus de caminhão, já aconteceu de tudo - de encontro de contadores de histórias a peças encenadas por estudantes de escolas próximas. Os freqüentadores são de todas as idades, mas o público infantil conta com um acervo especial de 800 livros, além de mediação de leitura uma vez por semana. "O que fazemos é facilitar o acesso ao livro", diz o coordenador do projeto.
    E o que os pequenos mais gostam de ler? Eles começam pelos livros com muitas figuras e, aos poucos, passam para leituras mais difíceis. "As poesias têm um poder danado em nossa biblioteca, e a leitura delas nas mediações faz diferença", afirma Damascena. Para ele, todo professor deveria incentivar os alunos fazendo mediação. "Só assim eles terão prazer na leitura e deixarão de ler por obrigação."
    Na Borrachalioteca, quem faz mediação de leitura é a esposa de Damascena, Aguida Alves, às vezes acompanhada do filho Sartre, que já pegou gosto pelos livros, mesmo com apenas 5 anos. Agora, o casal de voluntários se prepara para abrir outra biblioteca, no bairro de Cabral. "Nossa pretensão é levar cultura e diversão aos moradores por meio do incentivo à leitura." Uma sede nova para a Borrachalioteca também está nos planos, mas próxima à localização atual, onde tudo começou. "Eu gostava de ler quando era criança, mas não tinha acesso a tantos livros, pois venho de uma família financeiramente modesta", diz o rapaz. "Garantir esse acesso é minha principal motivação."
 





 


 
 

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