A
leitura nas séries iniciais
Enquanto avança o processo de alfabetização, aproximar os pequenos dos livros pode fazer toda a diferença
A Borrachalioteca, em Sabará, MG: contação de histórias e acervode 7 mil livros, dos quais 800 são reservados aos leitores-mirins. Foto: Leo Drumond/Ag. Nitro |
Quem disse que borracharia não é lugar
para crianças? Em Sabará, a 25 quilômetros de Belo Horizonte, um desses
estabelecimentos vive cheio de meninos e meninas. E eles não vão até lá para
encher o pneu da bicicleta. Freqüentam o lugar em busca de livros. Isso mesmo:
livros! É a Borrachalioteca, projeto vencedor do prêmio Viva Leitura 2007 na
categoria de bibliotecas públicas, privadas e comunitárias.
A idéia de transformar uma borracharia em
espaço literário foi do estudante de Letras Marcos Túlio Damascena. O rapaz
gosta de ler desde pequeno. Em 2002, muito antes de entrar na faculdade,
percebeu que o negócio da família tinha potencial para ser usado como
instrumento de incentivo à leitura. Afinal, havia espaço para acomodar alguns
livros. Tudo começou com aproximadamente 70 títulos, conseguidos na base da
doação. Em pouco tempo, crianças, jovens e adultos já visitavam o local não
para consertar pneus, mas para pedir livros emprestados. Hoje, o acervo chega a
7 mil exemplares. Seu ponto forte é literatura brasileira. O inventor da
Borrachalioteca conta, com orgulho, que a obra completa de Fernando Sabino - um
de seus escritores prediletos - ocupa lugar de destaque nas prateleiras.
Além de emprestar livros, o espaço ganhou um
anexo bem próximo, fruto de uma parceria com a prefeitura de Sabará. E a
iniciativa de Damascena acabou se transformando em uma ONG, o Instituto
Cultural Aníbal Machado (uma homenagem a outro dos autores preferidos do
rapaz). A maioria das 200 retiradas mensais da biblioteca é feita por crianças,
como Richard Marques, 8 anos, que vai ao local quase diariamente. "Gosto
mais de ler do que de ficar na escola", diz o garoto, estudante de 3º ano.
Ao longo do ano, Damascena organiza
eventos na praça em frente à Borrachalioteca, envolvendo sempre o incentivo à
leitura. Num palco feito com pneus de caminhão, já aconteceu de tudo - de
encontro de contadores de histórias a peças encenadas por estudantes de escolas
próximas. Os freqüentadores são de todas as idades, mas o público infantil
conta com um acervo especial de 800 livros, além de mediação de leitura uma vez
por semana. "O que fazemos é facilitar o acesso ao livro", diz o
coordenador do projeto.
E o que os pequenos mais gostam de
ler? Eles começam pelos livros com muitas figuras e, aos poucos, passam para
leituras mais difíceis. "As poesias têm um poder danado em nossa
biblioteca, e a leitura delas nas mediações faz diferença", afirma
Damascena. Para ele, todo professor deveria incentivar os alunos fazendo
mediação. "Só assim eles terão prazer na leitura e deixarão de ler por
obrigação."
Na Borrachalioteca, quem faz mediação
de leitura é a esposa de Damascena, Aguida Alves, às vezes acompanhada do filho
Sartre, que já pegou gosto pelos livros, mesmo com apenas 5 anos. Agora, o
casal de voluntários se prepara para abrir outra biblioteca, no bairro de
Cabral. "Nossa pretensão é levar cultura e diversão aos moradores por meio
do incentivo à leitura." Uma sede nova para a Borrachalioteca também está
nos planos, mas próxima à localização atual, onde tudo começou. "Eu
gostava de ler quando era criança, mas não tinha acesso a tantos livros, pois
venho de uma família financeiramente modesta", diz o rapaz. "Garantir
esse acesso é minha principal motivação."
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