Coleções infantojuvenis que apostam no formato do depoimento
são hits nas livrarias
Novas séries infantojuvenis, escritas em primeira pessoa,
não param de chegar às livrarias
A gurizada anda louca para ter um diário na cabeceira. De
preferência, mais de um. De olho em um crescente filão de mercado, novas séries
infantojuvenis não param de chegar às livrarias. São livros escritos em
primeira pessoa, em que o personagem, da mesma faixa etária dos leitores, narra
suas aventuras em textos curtos e bem-humorados.
Com sete títulos lançados no Brasil, além de outros dois
subprodutos, a série Diário de um Banana, do norte-americano Jeff Kinney, é o
carro-chefe desse fenômeno literário crescente. O cotidiano nada extraordinário
de um menino no Ensino Fundamental é um estrondoso sucesso: conta com três
adaptações para o cinema e já vendeu 75 milhões de exemplares no mundo, sendo
2,1 milhões no Brasil. Tentando repetir o acerto no investimento, a V & R
Editoras, responsável pela coleção no país, lançou ainda as séries Abafa, da
norte-americana Rose Cooper, e Mundo Genial de Hugo, da alemã Sabine Zett. Até mesmo James Patterson, autor de best-sellers policiais
como Ameaça Mortal, resolveu fazer uma incursão pela ficção infantojuvenil em
formato autobiográfico. Sua série Middle School, lançada em 2011, já está no
quarto volume. Em parceria com o escritor Chris Tebbetts e a ilustradora Laura
Park, Patterson conta a história de uma jovem que vê seus professores e outros
personagens escolares como seres pateticamente monstruosos, sempre de modo
hilariante e exagerado. O primeiro livro já está circulando no Brasil pela
editora Arqueiro sob o título de Escola: Os Piores Anos da Minha Vida.
Em comum, essas séries e outros hits como Diário de uma
Garota Nada Popular e Querido Diário Otário fazem uso do narrador na primeira
pessoa e estão repletos de ilustrações que simulam um caderno escolar.
— O texto em primeira pessoa faz com que o leitor se sinta
mais próximo e entre junto com o personagem na história, gerando uma emoção
mais intensa — avalia Flávia Lins e Silva, autora da série Diário de Pilar, que
já vendou 100 mil exemplares no país e terá edição na França, na Alemanha, no
México e na China.
Narrativa fragmentada facilita a leitura
Uma das maiores referências do país em pesquisa de
literatura infantojuvenil, Regina Zilberman, professora do Instituto de Letras
da UFRGS com pós-doutorado na University College (Inglaterra) e na Brown
University (Estados Unidos), observa que o formato de diário dessas coleções se
insere em uma antiga tradição literária:
– A narrativa em primeira pessoa em obras infantojuvenis não
chega a ser uma novidade. Em Memórias de Emília, por exemplo, Monteiro Lobato
faz uma interação entre primeira e terceira pessoa. Mas essa quantidade de
obras no mercado é mesmo um fenômeno recente.
Ana Cláudia Gruszynski, professora e líder do Laboratório de
Edição, Cultura e Design da UFRGS, destaca que a possibilidade de leitura
fragmentada pode ser um dos motivos de êxito das séries. Ainda que as
publicações tenham a pretensão de que se criem vínculos de interesse com os
leitores a longo prazo, basta folhear os livros para encontrar conteúdos
bem-humorados que podem ser entendidos fora do contexto da história, como o
desenho de um desastrado plano para fugir da aula ou a caricatura de um não
muito estimado professor.
– Penso que livros em forma de diário estão em sintonia com
vivências de um tempo presente de aceleração, individualismo e visibilidade,
apresentam uma certa despreocupação com vínculos que exijam muito investimento
para um desfecho final, favorecem um prazer no aqui e agora – avalia Ana
Cláudia.
A pesquisadora também aponta que essas séries literárias em
forma de diário ainda podem ter um importante papel de despertar o gosto pela
leitura entre crianças e pré-adolescentes:
– Essas séries são parte de um repertório que pode gerar
interesse do grande público e, quem sabe, mobilizar os leitores a experimentar
também outras formas narrativas.
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Convidamos os próprios leitores a explicar a paixão pelos livros
em formato de diário. Estudantes do Centro Integrado de Desenvolvimento (CID),
de Porto Alegre, com a colaboração da educadora Cheila Schroer, toparam o
desafio de colocar seus motivos no papel. Aprenda com eles:
"Gosto do livro em diário porque a gente fica sabendo
de tudo que acontece no dia a dia dos personagens, desde coisas simples até
acontecimentos muito importantes. Com isso, parece que nós convivemos com o
personagem. A forma como eles contam a vida deles é divertida e engraçada. O
livro quatro da série Diário de uma Garota Nada Popular sugere a produção de um
diário, e eu estou adorando produzir e pensar sobre minha vida e minhas
coisas." Marina Chang Miranda, nove anos
"Gosto dos livros Querido Diário Otário porque as
personagens principais são alunos normais de uma escola. Por ser em forma de
diário, a gente consegue se identificar com a personagem principal. Um livro
funciona independentemente do outro, isto é mais uma vantagem. Tem situações
engraçadas e próximas da nossa realidade. Meu encantamento está em ler e
imaginar o que está acontecendo." Carolina Braga Zanatta, 10 anos
"Li toda a coleção Diário de um Banana e achei muito
legal, pois conta tudo o que acontece na vida do personagem. O que achei mais
legal foi a que fala sobre a banda do seu irmão mais velho, porque adoro
música, e sobre o chatinho do seu irmão mais novo. Também me diverti com o
melhor amigo, que viaja na maionese. Tem também os valentões que dizem que
escrever diário não é para meninos, isto eu discordo." Felipe Ortiz, nove anos
"O Diário de um Banana é diferente de outros livros
porque fala sobre um garoto que está em fase de crescimento. Gosto muito da
coleção porque têm diálogos engraçados e atuais. Eu me identifico com os livros
porque o que acontece faz parte do nosso dia a dia. Esta forma de contar
histórias prende nossa atenção e faz com que a gente queira logo saber qual
será o próximo livro, embora um não dependa do outro." Fernando Mund, nove anos